23 de novembro de 2024

Neville D`Almeida define “Bye Bye Amazônia” como “filme manifesto”

Este é o terceiro filme de sua carreira com temática indígena.

O cineasta Neville D`Almeida, um dos principais nomes do cinema nacional, está em Tiradentes onde seu mais novo filme, “Bye Bye Amazônia – A Morte Anunciada da Floresta Amazônica” foi exibido na tarde de quarta-feira, 24 de janeiro, em pré-estreia, na 27ª Mostra de Cinema. Definido por ele durante coletiva na manhã de quinta-feira, 25, como um “filme manifesto”, a entrevista teve como principal ingrediente a sinceridade. Ele não gostou, por exemplo, de seu filme ter sido exibido às 18h, e em uma sala com capacidade para poucas pessoas. Uma crítica que ele reiterou ao longo da conversa, ressalvando a excelência da organização e da iniciativa de promover um festival da magnitude deste em Tiradentes.

Aos 82 anos de idade e um dos diretores mais premiados do Brasil, reconhecido internacionalmente, Neville D`Almeida conquistou o grande público na década de 1970 com o filme A Dama do Lotação, adaptação de um conto de Nelson Rodrigues, que foi campeão de bilheteria no país por inacreditáveis 32 anos. É dele também outros sucessos como “Os Sete Gatinhos”, “Rio Babilônia”, “Navalha na Carne”, e muito mais. Além de cineasta é artista plástico, conforme lembrou na entrevista, citando obra sua em parceria com o amigo Helio Oiticica, em exposição no Museu Inhotim.

Na Mostra de Tiradentes ele apresenta ao público seu terceiro trabalho tendo o índio e seu habitat como personagens principais. O filme é o que ele chamou de “Cinema Relâmpago”. Quem explica este conceito é Julliane Chaves, diretora de fotografia do filme, presente à coletiva. “É um trabalho que se concretizou somente pela força de vontade de concluí-lo. “A gente quis fazer e fizemos. Eu, por exemplo, fiz a fotografia, dirigi, pesquisei os melhores lugares e horários para filmar, porque a gente não usou luz artificial, enfim, foi tudo feito com muita garra”, revelou. Em mais um rasgo de sinceridade, entregou: “Há cenas, inclusive, feitas com um celular.”

Neville deixa claro na entrevista sua decepção e revolta com a realidade indígena no país. “Eu fiz filme com índio três vezes nos últimos quarenta anos. A primeira vez foi nos anos oitenta. Sem um patrocínio, nada! Fui lá na terra deles, convivi com eles. E cada vez que estive lá vi que a situação está piorando e nada é feito no sentido de mudar isso. O índio é um favelado. Favelado no meio do mato. Não tem nada… Como eu disse ontem, o Brasil tá matando ínido há quinhentos anos. Este filme, por exemplo (Bye Bye Amazônia) é um recorte do que acontece lá de 2019 a 2022. E se eu voltar lá agora, vai estar pior do que quando saí,” afirmou.

“Bye Bye Amazônia” ainda não tem data para estrear nos cinemas do país. No elenco estão Mac Suara Kadiweu, Ana Kariri, Thiago Justino, Luana Pessanha, Eloá Oliveira, Lívia Lopes e Matheus Assis. A produção é do próprio Neville D’Almeida, Cavi Borges, Lino Meirelles e Luiz Osvaldo Pastore. Julliane Chaves assina a direção de arte e a fotografia.